quarta-feira, 14 de novembro de 2007

Um pouco do meu cemitério particular


Os anos passam e a gente vai adquirindo experiência, ficando mais velho, responsável e juntando lembranças. Nossa mente fica cheia de rostos e fatos. Muitas dessas pessoas nem nos recordamos mais dos seus nomes.
Alguém disse certa vez que a gente vive com um cemitério na cabeça. Essa é a maior verdade que existe.
Algumas vezes é muito difícil viver com esse “cemitério”, outras vezes é ele quem nos trás os melhores momentos de nossas vidas e, se ele não existisse nossa jornada seria quase que impossível.
Lembrar do banho de lama nos tempos de criança com os amigos. Como eram mesmo os nomes deles? Ah! Pouco importa! O que importa mesmo é lembrar da alegria, da bagunça, da sensação boa de ser criança e se sujar de lama!
A maioria das pessoas deixa o seu cemitério abandonado, esquecido, como sequer desejasse que ele existisse, porém, de certo modo todos têm que conviver com ele.
Guardamos nossas lembranças e segredos em túmulos fechados e os abandonamos no cemitério de nossas mentes até que um dia, um cheiro, uma imagem, faz reviver fantasmas há muito esquecidos.
Algumas vezes a vida nos conduz por caminhos tão tortuosos que não sobreviveríamos se não fossem essas maravilhosas lembranças do nosso passado, outras vezes são esses “fantasmas” que nos torturam impiedosamente.
“A vida é uma peça e sempre a vivemos dois papéis”. Serão sempre dois papéis antagônicos, pois ora seremos caça, ora caçador. Impossível passar impune por ela, sempre será impiedosa e cruel.
Todas as vezes que vivemos uma experiência é como se estivessem nos colocando à prova, como se estivéssemos sendo avaliados, como se as nossas atitudes estivessem sendo avaliadas pelo cosmos e, se formos reprovados, viveremos a mesma cena, porém em papel invertido, para entendermos como o outro se sentiu naquela situação, principalmente se tratarmos o outro com certa indiferença.
Eu tenho um cemitério enorme na minha cabeça. Ele está repleto de emoções e sentimentos que me deixam, muitas vezes, por horas refletindo.
O mais belo de nossas lembranças é que conseguimos rir de coisas que muitas vezes nos fizeram chorar no passado. Hoje enterro minhas lembranças no meu cemitério particular, para desenterrá-las apenas quando puder rir de tudo que se passou.
Ouvi certa vez que “os cemitérios estão cheios de insubstituíveis e indispensáveis” e, num primeiro momento pensei estar ouvindo mais uma daquelas verdades absolutas e incontestáveis, mas hoje entendo que as pessoas podem ser substituídas em nossas vidas, mas jamais em nossas mentes. Nosso corpo pode aceitar que troquemos uma pessoa por outra, mas em nossas mentes não conseguimos substituir aquela amiga fiel de nossa infância.
Falando em amigos de infância me lembrei de Andréa Paula. Em algum lugar do meu cemitério das lembranças está Andréa Paula. A única amiga que não me traiu!!
Por que os amigos nos traem? Difícil entender os motivos que levam uma pessoa a fazer com que a gente acredite que é nosso amigo e depois nos traem com seus discursos politicamente corretos.
Amigos não deveriam ser politicamente corretos, deviam ser apenas amigos, como a Andréa Paula. Quando ela não gostava do que eu fazia, simplesmente não falava nada.
Pessoas são insubstituíveis sim. São como músicas: cada uma tem seu tom, sua nota, seu acorde, seu tempo.
Convivi com todo tipo de pessoas ao longo dos meus 39 anos e posso dizer que a convivência está ficando mais difícil ao longo de cada ano!
As pessoas perderam o limite no trato com as demais, não sabem seus limites, seus direitos e o momento de cada pessoa.
A inteligência também está em baixa. As pessoas têm preguiça de pensar. Jogam a culpa na falta de tempo, na vida corrida, mas a verdade é que não lêem os jornais por pura preguiça de pensar.
Fica mais fácil consumir as notícias mastigadas e cheias de segundas intenções dos telejornais. Não criam suas próprias opiniões, repetem o que ouvem.
Tenho andado algumas horas vasculhando o meu cemitério particular, tentando achar esse ou aquele acontecimento, esse ou aquele amigo que me fizesse sentir algum tipo de alegria ou emoção boa, mas, nesses tempos em que as pessoas preocupam-se mais com sua própria sobrevivência, não consigo me lembrar de nada ou de ninguém que me traga alegria.
A minha mente continua a caminhar pelas alamedas do meu cemitério imaginário, resgatando almas há muito perdidas entre os anos e os quilômetros de distância que nos separam. Resgato rostos, imagens perdidas no tempo e no espaço.
Lembro da infância, da família, dos que realmente se foram para habitar apenas o nosso imaginário.
Algum dia também eu estarei apenas no imaginário de algumas pessoas, poucas, mas estarei.




“O cemitério está cheio de insubstituíveis e indispensáveis” que habitam a nossa mente, permeiam nossos pensamentos, invadem nosso dia, nos trazendo pequenas gotas de felicidade.

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