sexta-feira, 20 de junho de 2008

Casa no Campo (parte 8010?)


Hoje, após me deparar frente a frente com um gambá que estava no meio da minha cozinha, cheguei à conclusão de que preciso urgentemente ir a uma sessão espírita.
Com certeza! Preciso invocar o espírito da Elis Regina e perguntar se ela cantava Casa no Campo por convicção ou sonho.
Com alguns versos eu até concordo. Veja esse, por exemplo: “E tenha somente a certeza dos amigos do peito e nada mais”.
Tenho que concordar com esse verso, pois se algum amigo aparecer para te visitar é porque é amigo de verdade, afinal quem quer se deslocar quilômetros para fazer uma visita?
Mas voltando ao gambá... Eu não sei quem estava mais assustado: o gambá mendigo ou eu, pois a última vez que um gambá entrou em nossa casa quebrou o dedo do meu marido, que tropeçou fugindo do bicho.
O bicho estava entrando sistematicamente na minha casa todas as noites para revirar o lixo e não era incomodado e de uma hora para outra se vê diante de uma multidão. Ficou totalmente desconsolado e escondeu a cabeça em uma pilha de garrafas de cerveja, deixando o corpo de fora.
O meu gato, que apanhava todos os dias pela manhã por causa do lixo revirado, se sentiu vingado e saiu aos saltitos atrás do roedor. Parecia até uma bicha felina de tanta felicidade. Enfim, estaria vingado!
Porém sua curiosidade durou o tempo de eu sacudir o pote de ração e trazê-lo de volta.
Para evitar outros maus entendidos, resolvi entrar em acordo com o gambá: Deixo um pouco de resto de comida todos os dias do lado de fora e ele não invade mais a minha cozinha, afinal, descobri não ser um gambá, mas uma gambá que descobriu que ter a sua cria embaixo das minhas telhas era mais confortável do que ao relento.
Esse não é o primeiro problema e nem será o último que uma pessoa extremamente urbana como eu, criada em apartamento e em casas cimentadas até o teto irá enfrentar, com certeza não.
Outro dia ainda me lembrei de outro verso da música: “Eu quero carneiros e cabras pastando solenes no meu jardim”.
Acordei em plena manhã de domingo ouvindo um béééééééé tonitruante. O bode e as cabras do vizinho escaparam e estavam devorando tudo em meu jardim. Nem o Bouganville escapou e olha que o bicho tem tanto espinho que eu xingava até a minha 5ª geração quando tinha que podar. Eu disse tinha porque eles mastigaram tanto que dificilmente voltará a brotar.
E pastavam soberanos porque estavam bem guardados por um bode preto que parecia ter saído do inferno, tamanha a gana que teve em me dar uma corrida.
E as reuniões de família? Ah! Essas tem um sabor todo especial. A gente se reúne na varanda dos fundos e, como a música alta confunde os radares dos morcegos a gente corre o risco de tomar uma morcegada pela cara. Eu já até desenvolvi uma técnica toda especial de deixar para abaixar quando eles estão bem perto e só levantar quando tenho a certeza que tomaram outros rumos. Isso a música não fala.
Mas se tem uma coisa de que posso me orgulhar é que, apesar de ter mosquitos de todas as espécies e cores (tem até azulado), aqui não teve um só caso de dengue! Com certeza os milhares de sapos, rãs, louva-deus, que se alimentam com larvas que se desenvolvem em água parada ficaram muito mais gordinhos nesse verão.
A sapaiada é um capítulo à parte nessa minha Odisséia, pois a primeira noite após cessarem as chuvas ouve-se a cantoria de longe!
Seria até bucólico, não fossem as cobras que vem atrás da cantoria. ‘Inda outro dia ouvi um sapo fazendo um barulho muito estranho e fui no mato olhar e vi que estava sendo estrangulado por uma cobra muito pouco simpática.
Um outro animal que merece um parágrafo na minha Epopéia é o Mico da Cara Preta ou seja lá como o Globo Repórter o denominou. A verdade é que vi a reportagem dizendo que o bicho estava em extinção e eu achei interessante que no Jamelão atrás da minha casa tivesse pelo menos uns vinte. Achava tão bonitinho os assovios que faziam para se comunicar, achei até que eram amistosos. O pior é que eram, até o dia que começaram a roubar garfos, facas e colheres na minha casa.
Não sei se foram eles que deixaram de ser amistosos ou eu, só sei que se eles estava em extinção eu não sei, mas se continuassem a roubar em minha casa certamente estariam extintos.
Outro animal que merece um parágrafo especial na minha Tragédia é o Quero-quero. Eu não entendo porquê um passarinho não gosta de voar. Ele ensaia um pequeno vôo e depois começa a andar aos pulinhos.
O principal problema desses passarinhos é fazer os seus ninhos no chão da pracinha e a tal pracinha ser caminho de passagem para todos que querem sair do condomínio. Todos que passam pelas ruas representam uma ameaça para seus ninhos. Sem contar a garotada que quer jogar bola no campinho e leva com uma bicada de Quero-Quero pela cabeça.
Ainda bem que para o meu consolo os autores da música ainda estão vivos para ouvirem as minhas queixas, pois me sentiria totalmente desolada se eu não pudesse chamar ninguém de mentiroso.
Com certeza morar numa casa no campo não é tão ruim assim, desde que todos os animais medonhos e insuportáveis estejam em extinção.

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